O equipamento torna automática a ventilação mecânica manual utilizada por médicos, enfermeiros e socorristasADRIELI EVARINI, JOINVILLE26/03/2020 ÀS 17H38
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Atualizado Há 2 dias
Os casos suspeitos e confirmados de coronavírus se multiplicam. Em Santa Catarina, a primeira morte foi confirmada na manhã desta quinta-feira (26) e as medidas de restrição continuam limitando a circulação de pessoas e a prestação de serviços como forma de tentar impedir a propagação da doença.
Projeto envolveu 20 pessoas e já existem 80 profissionais mobilizados para iniciar a produção – Foto: Fernando Grim/Divulgação
Em meio a tantas incertezas, um empresário de Jaraguá do Sul decidiu fazer do momento de isolamento uma inspiração para ajudar. Em quarentena, Fernando Grim desenvolveu, com a cooperação de um grupo de 20 profissionais, um projeto que pode ser fundamental no tratamento ao coronavírus.
Ele criou um equipamento que torna a ventilação mecânica manual utilizada por médicos, enfermeiros e socorristas em um respirador pulmonar automatizado.
Ele explica que o processo é “simples” e consiste em fazer a automação do que o profissional de saúde faz manualmente por meio de um ambú, equipamento que promove a ventilação artificial por meio de técnicas manuais.
A partir do ambú, a equipe desenvolveu um mecanismo de ambulação para fazer esse processo. “Um paciente com coronavírus precisa ficar entubado por muito tempo, então, nós criamos uma máquina que faz esse serviço de apertar o ambú na pressão, velocidade e quantidade certas. Fizemos a mecanização do trabalho manual”, resume.
Fernando desenvolveu o projeto com a cooperação de 20 profissionais – Foto: Fernando Grim/Divulgação
E a equipe não demorou para desenvolver o protótipo, que será testado já neste fim de semana. Grim conta que são cinco protótipos. Destes, um será enviado para a USP (Universidade de São Paulo) a pedido da própria universidade que fará testes para garantir a eficácia; um fica em Joinville também para testes, e o terceiro será avaliado por um médico que auxiliou no processo. Os dois protótipos restantes ficarão na fábrica para possíveis ajustes, se necessário.Tocador de vídeo00:0000:25
Ideia surge durante quarentena
A ideia inicial do projeto surgiu na semana passada, após o isolamento de Grim. Em três dias, o projeto estava pronto e um médico foi chamado para passar todos os requisitos de um respirador pulmonar.
A primeira tentativa foi com peças automotivas, o que tornaria o equipamento mais barato, mas os desenvolvedores tiveram de abortar a ideia porque as peças não tiveram o desempenho esperado.
“Terminamos a parte técnica e fomos para a prática. O nosso objetivo era o de tornar o equipamento barato. Depois de tentar com peças do setor automotivo, alteramos o projeto e fizemos o primeiro protótipo com equipamentos industriais, tornando-o mais caro, mas com grau de eficiência maior”, fala.
Hoje, contra o empresário, o investimento para montar um equipamento é em torno de R$ 15 mil. “Tendo em vista que um respirador pulmonar custa R$ 50 mil, estamos priorizando fazer ele funcionar para que possa ser utilizado e servir para o resultado final. Depois, trabalhamos na redução dos custos”, salienta.
“O nosso objetivo é salvar vidas”
Depois de desenvolver o protótipo, Fernando Grim passou por um treinamento no Senai, em Joinville, com profissionais que realizam a manutenção de respiradores pulmonares.
Ele conta que a programação do equipamento é feita a partir das características repassadas pelo médico sobre o paciente. “Construímos um carro com linhas lineares e duas sapatas mecânicas que trabalham sincronizadas fazendo a compressão e descompressão do ambú. Essas sapatas são programadas via CLP (Controlador Lógico Programado) e o movimento é programado via IHM (Interface Homem Máquina), nas quais eu tenho total liberdade para programar a quantidade, velocidade e tempo de ar que será enviado ao paciente de acordo com as características e orientações repassadas pelo médico”, explica.Tocador de vídeo00:0500:19
Segundo Grim, os protótipos funcionam completamente e já estão aptos para serem utilizados. A partir de agora, as adequações são pensadas para tornar o equipamento mais confortável.
O empresário diz, ainda, que a análise do médico foi simples e direta. “Vamos fabricar um fusquinha necessário para a sobrevivência dos pacientes”, conta.
Apesar disso, ele salienta que não vê o equipamento como um respirador e sim como um “facilitador”. “Eu considero que estou fabricando um equipamento que vai automatizar o ambú, que é um ventilador pulmonar. O nosso objetivo é salvar vidas”, enfatiza.
O equipamento será testado e depende de aprovações e liberações, mas o empresário conta que teve o cuidado de utilizar peças liberadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para torná-lo viável. Além disso, garante que já há cerca de 80 profissionais mobilizados para iniciar a produção. A capacidade, conta ele, é de fabricar 100 equipamentos por semana.
Apesar disso, o investimento é alto e a produção depende de parcerias com empresas e hospitais.
Por ND+