Após perder avó e ter a mãe na UTI por causa do coronavírus, empresária de SC reforça: ‘Ficar em casa’
Com nove casos confirmados na família, moradora do Sul do estado iniciou isolamento antes da quarentena estadual e saiu de casa duas vezes: uma delas para ir ao cemitério se despedir, de longe, da avó materna. ‘O vírus não circula, quem circula somos nós’, alerta.
Maria Joana Prá, de 84 anos, tinha vida ativa e morreu após ficar internada por causa do coronavírus —
Com pelo menos nove casos de Covid-19 confirmados na família, a empresária Vivian Prá Philippi alerta para a necessidade de a população ficar em casa. A avó dela, Maria Joana Prá, de 84 anos, morreu na terça-feira (14) com a doença. A mãe também chegou a ir para a unidade de terapia intensiva do mesmo hospital onde a avó estava internada em Tubarão, no Sul de Santa Catarina. Santa Catarina tem 884 casos confirmados de coronavírus da doença e 29 mortes.
“Para mim, o vírus não circula, quem circula somos nós. Acredito que é só o começo desse vírus, que a gente ainda não está no pior momento. Todo mundo tem que se unir, cuidar de si e do outro. Ficar em casa e, se sair, tomar todos os cuidados”, diz a catarinense que perdeu a avó para o Covid-19.
Moradora de Braço do Norte, no Sul catarinense, dona Joaninha, como era conhecida, apresentou os primeiros sintomas em 15 de março quando voltava de Florianópolis da formatura do neto com a família. No carro, a idosa tossiu e relatou que estava sentido dor de cabeça. Ela morreu na madrugada de terça-feira (14) no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, onde ficou internada na UTI desde 25 de março. Antes, passou pelo hospital de Braço do Norte.
A morte foi confirmada pelo Governo de Santa Catarina na noite de 14 de abril.
“O mais difícil foi perder a vó, uma pessoa muito iluminada! Era um alicerce, muito envolvida com tudo, era voluntária em várias coisas, tinha uma vida muito ativa, fazia hidroginástica, pilates, dançava, participava de grupo de idosos”, lembra a neta.
“Parecia tudo muito distante e quando confirmaram o primeiro caso no estado, não imaginamos que o vírus já estava na nossa casa, já estava conosco”, conta.
No domingo, dia 15 de março, eles viajaram de volta ao Sul do estado. Na segunda-feira dona Maria foi levada ao hospital de Braço do Norte e ficou internada. A mãe de Vivian, ela e o irmão também tiveram sintomas. A mãe e a avó de Vivian precisaram ir para outro hospital, em Tubarão, por causa dos sintomas mais graves, que exigiram internação em UTI. A mãe de Vivian, Cleusa Prá, ficou um dia e meio na UTI. Ela recebeu alta, mas voltou a ter febre e ficou mais uma semana hospitalizada.
“Fiquei em casa já antes de o governador decretar o isolamento social. Não fui trabalhar, pois já estava com medo de transmitir alguma coisa, que fosse realmente esse vírus. Permaneço em casa até hoje, saí duas vezes de casa: uma vez para ir no meu escritório e outra para ir no cemitério me despedir, (de longe), da minha avó”, detalha.
Além de Vivian, com a suspeita da doença, outros familiares também procuraram ficar em casa. Na quarta-feira, 17 de março, o Governo de Santa Catarina decretou situação de emergência e iniciou a quarentena.
Na manhã desta quinta (16), Vivian foi com uma sobrinha fazer o teste em um laboratório da região. Segundo ela, a mãe e a avó testaram positivo em exames coletados no hospital e outras sete pessoas da família fizeram em laboratórios particulares e tiveram o diagnóstico confirmado. Todos moram em Tubarão e Braço do Norte, uma das cidades catarinenses que obrigaram uso de máscaras para os moradores.
Família vai fazer novena por sete dias
Segundo Vivian, todos da família ficaram muito assustados, especialmente quando dona Maria Joana e a filha estavam na UTI. Não há certezas sobre como podem ter contraído o vírus. Após a morte da matriarca, filhos, netos, bisnetos e amigos se uniram em orações, à distância.
“Fizemos na quinta o primeiro dia uma novena online. Todo dia às 20h vamos fazer isso por sete dias, orações pela vó. Ela sempre foi muito católica, ela nos ensinou. Estamos fazendo isso para ter um pouco de conforto já que não foi possível fazer velório, uma missa. O sepultamento foi do hospital diretamente para o cemitério. Somente os filhos e alguns netos puderam estar presentes, mas todos muito distante, ninguém se tocava, se abraçava, tudo muito frio”, diz Vivian.
Todas os sepultamentos de vítimas com suspeita ou confirmação de coronavírus seguem protocolos de segurança.
“É muito difícil não dar esse adeus final, esse tchau e para conseguir passar por isso, estamos fazendo essa noveninha para emanar essa energia, um pouco de luz nessa passagem da nossa vó”, conta a moradora de Tubarão.
Ela reforça a necessidade do isolamento social, mesmo que seja difícil para muitos trabalhadores. “Também tenho uma empresa, preciso trabalhar e atender meus clientes, mas estou com bastante cautela, cuidado comigo, com funcionário e as pessoas que lido no dia dia”, diz. Vivian esteve no seu escritório de consultoria ambiental só uma vez desde o início da quarentena e tem feito o que é possível à distância.
“Não importa de onde veio, quem pegou, quem transmitiu. O que importa é que isso cesse, que a gente consiga se cuidar, que isso não passe da minha família para outra família. Não importa de onde veio e sim barrar o vírus”, declarou.
Dona Maria Joana Prá era viúva e e um de seus filhos também falecido. Ela deixou cinco filhos, 19 netos e 11 bisnetos.
“Acredito que isso foi um ensinamento de Deus para família e para a sociedade também, que isso sirva de exemplo, está ao nosso lado, dentro de casa”, diz a empresária.