Festas privadas de Jurerê geram revolta durante quarentena em SC
Ao menos 8 foram identificadas no último fim de semana no bairro de alto padrão
Dentro de mansões embaladas por música eletrônica em Jurerê Internacional, em Florianópolis, a quarentena em razão da pandemia do novo coronavírus não pegou. Festas privadas ignoram as restrições impostas pelo isolamento. Os registros de aglomeração são publicados nas redes sociais dos próprios participantes das festas, e provocaram críticas de moradores da capital catarinense.
O bairro de alto padrão, que é conhecido por atrair visitantes de várias cidades em busca de festas, entrou na mira de perfis criados nas redes sociais para denunciar desrespeito aos decretos de ações de combate à Covid-19 em Santa Catarina.
Na segunda-feira (4), postagens de festas privadas foram reproduzidas nesses perfis e enviadas aos órgãos de fiscalização. O porta-voz de um desses perfis, que não quis se identificar por temer reação, diz ter se sentido motivado a criar a página por causa das mortes no estado e no país —Santa Catarina registrou 2.917 casos da Covid-19, com 59 mortos.
“As festas nos ‘beach clubs’ estão paradas por causa das proibições, mas aí estão se realizando até com mais intensidade nas casas”, diz o diretor jurídico da Associação de Proprietários e Moradores de Jurerê Internacional, Luiz Carlos Zucco.
Por meio das denúncias, a Vigilância Sanitária do município identificou que, no final de semana do feriado de 1° de maio, festas ocorreram em oito endereços de Florianópolis, a maioria em Jurerê.
“A gente já havia recebido reclamações pontuais, mas neste final de semana as reclamações foram em volume maior. Nós identificamos os proprietários dessas residências e estamos encaminhando notificação sobre a proibição da realização de eventos nesse período de quarentena”, diz a diretora de Vigilância em Saúde de Florianópolis Priscilla Valler dos Santos.
Além da aglomeração, as publicações das festas privadas geraram indignação nas redes sociais. Nas postagens há ostentação, deboche da morte e denúncia da presença de médicos nos agrupamentos.
Num dos vídeos publicados, um grupo dança enquanto carrega nos ombros um homem que se posiciona como se estivesse morto. A música eletrônica é a mesma do que ficou conhecido como meme do caixão, que faz referência à cultura dos carregadores de caixões de Gana, que dançam na cerimônia de velório.
Um dos “carregadores do caixão” que aparece na festa foi identificado pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) de Santa Catarina. Segundo o o órgão, a participação do médico nas postagens de aglomeração está sendo apurada.
O nome de um segundo médico também foi indicado ao conselho, mas o órgão não encontrou registro do profissional em Santa Catarina —ele seria de São Paulo. Os perfis das redes sociais dos participantes das festas com as postagens de aglomeração foram apagados.
A Polícia Militar informou que fiscalizou o cumprimento dos decretos de ações de combate à Covid-19 em 267 locais próximos à Jurerê na última semana, mas têm dificuldade de inibir eventos em residências.
“O que ocorreu, segundo a postagem, foi festa em residência fechada. Isso fica bem mais complicado para o patrulhamento”, diz o comandante do 21º Batalhão da Polícia Militar, major Pablo Neri Pereira, que é responsável pelo policiamento no norte da ilha.
O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), divulgou uma nota repudiando as festas. “Não vamos tolerar esse tipo de desrespeito às normas sanitárias”, disse.
Florianópolis têm 434 casos confirmados e sete mortes. No final de março, a prefeitura anunciou a compra de 200 mil testes rápidos para fazer o exame em larga escala na população. Do total prometido, porém, 35 mil testes foram efetivamente adquiridos e só 3.728 foram realizados.
Em Santa Catarina, a quarentena começou a ser flexibilizada em 13 de abril para a retomada gradual da economia, mas as aglomerações estão proibidas.
Por Folha de São Paulo